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Uroboro still6.jpg
UROBORO

Vídeo, loop, 6’33
2019

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No vídeo UROBORO o som é protagonista; a matéria sonora é moldada camada a camada sobre a filmagem em um plano-sequência cíclico da ruína construída no Bosque Rodrigues Alves – atração de sucesso num dos principais pontos de lazer de Belém do Pará, minha cidade natal. Meus pais logo se separaram, passei a morar com a família materna no sul e retornei poucas vezes até os cinco anos de idade, enquanto meu pai ainda vivia lá. Depois disso não voltei até a vida adulta, quando fui a trabalho em três ocasiões. Na mais recente quis revisitar o Bosque quando uma forte chuva repentina fez com que eu corresse para me abrigar na ruína, e, de repente, me vi sozinha naquele local insólito. Aos poucos fui percebendo que o ambiente evocava fragmentos de lembranças muito antigas, talvez cacos das minhas memórias mais primitivas. Tão primitivas que nem sei se são realmente minhas.

Esta proposição parte de premissas muito simples a fim de evidenciar o campo relacional entre as coisas. Um registro básico em plano-sequência circular sugere a correspondência entre ascensão e queda. Por se tratar da filmagem de uma ruína construída, o poder evocativo se abre a simbolismos diversos, sobretudo às marcas da herança colonial. O presente se alimenta do passado, propagando o eterno retorno, assim como o mito da serpente que devora a si mesmo pela cauda. Mais do que sonoplastia, a trilha é como uma escultura sonora no limiar da linguagem. Capaz de subverter um monumento para o entretenimento num precipício à beira do abismo do inconsciente coletivo. Aspectos narrativos surgem e desaparecem em sussurros. Agregam-se a outras camadas de sons guturais, lamúrias pouco inteligíveis; reminiscências acumuladas. Evocam dimensões mais profundas do reconhecimento; a sensação de pertencimento à injustiça imemorável.

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