Exercícios de Realismo Abstrato
Exercícios de Realismo Abstrato
50 x 50 cm cada
Aerofotogrametria
2009
As fotografias utilizadas neste exercício são extremamente objetivas. Trata-se de aerofotogrametrias, imagens feitas com um rigor absoluto: um avião com fundo de vidro sobre o qual é colocada uma robusta câmera segue uma rota precisa percorrendo todos os pontos de uma determinada área com a inclinação ideal, e a câmera automaticamente registra tudo em intervalos calculados. Após a captura das imagens, estas são montadas em um software que possui toda a cartografia tridimensional da área. Portanto, a aerofotogrametria é tão fiel à realidade que, se soubermos em qual escala foi registrada, podemos calcular a distância real de extensões da paisagem em metros ou quilômetros.
No entanto, há algo surpreendentemente abstrato nestas imagens. Formas, padrões, texturas saltam aos nossos olhos.
Durante séculos, a civilização ocidental esteve habituada a enxergar a paisagem através da perspectiva renascentista. Este é o ponto de vista com que estamos acostumados a reconhecer o mundo, a visão de quem está na Terra. Porém, com o advento da fotografia feita por satélite e sua popularização na internet, bem como o acesso a softwares do tipo Google Earth™, nos deparamos com um modo totalmente diferente de encarar a paisagem. Talvez a tendência a lermos estas imagens pela via da abstração esteja relacionada à nossa falta de intimidade com paisagens desprovidas do tradicional ponto de fuga, pois estas são representações em que a profundidade se dá na vertical.
O título Exercícios de Realismo Abstrato se refere ao esforço mental demandado por estas fotografias, esforço para controlar a ambigüidade da nossa percepção que constantemente se alterna entre um reconhecimento do que as formas são na realidade (casas, árvores, estádios, igrejas) e do que elas aparentam aos nossos olhos (círculos, retângulos, cones, linhas, volumes).