REVERSO (E OUTROS ECOS)
2018
Mosaico fotográfico que funde o registro da obra REVERSO (2002) à base do desenho da claraboia da sala expositiva.
Impressão em adesivo reflexivo
Dimensão mosaico esquerdo: 177cm x 412cm; dimensão peça central na base de acrílico: 47cm x 38,8cm;
dimensão mosaico direito: 177cm x 404cm, 2018
REVERSO, é um dos mais emblemáticos trabalhos da série por estabelecer conexões temporais para além do momento de sua apresentação. Marcou o início de um pensamento processual, em que novos projetos retomavam e resinificavam ocorrências prévias. REVERSO foi elaborado para participar da coletiva LARANJAS que deveria ocupar a Galeria Iberê Camargo, mas acabou se espalhando por toda a Usina do Gasômetro. Então, foi apresentado no teto do 4º andar, em conexão retrospectiva com CONDENSÁVEL – uma intervenção realizada na tremonha da Galeria Lunara no mesmo ano, no mesmo edifício, um andar acima. Na ocasião da individual CONDENSÁVEL o público olhava para baixo enquanto caminhava sobre 4.000 fragmentos originários de quatro grandes fotografias do pôr-do-sol que se adensavam próximo ao escoamento em forma de funil. REVERSO, ao contrário, pedia que o sujeito olhasse para cima, virtualmente na mesma direção por onde o “entardecer havia escorrido” no passado. A escolha por utilizar tais imagens neste local estava em sintonia com o posicionamento da Usina do Gasômetro, que, assim como a Fundação Iberê Camargo, está às margens do Guaíba, cenário favorito para se apreciar o pôr-do-sol em Porto Alegre.
Após a exposição, quando recebi a obra no apartamento, achei o melhor aproveitamento de espaço na quina de uma pequena saleta, separando as metades em paredes perpendiculares entre si. Os “outros ecos” do REVERSO partem do registro da obra no local do acidente, tal qual estava acondicionada perpendicularmente, explorando nuances no processo de transcodificação. Entretanto, tal experimentalismo é totalmente aleatório, mas sim, responde a características espaciais do seu novo local de apresentação, neste caso a sala 2 do 2º andar da Fundação Iberê Camargo. Houve um estudo inicial baseado na planta, que se apropria do ângulo de inclinação da parede onde a obra será instalada, ao mesmo tempo em que replica a lógica da grade utilizada na iluminação da claraboia.
O objetivo é propor uma fusão entre o desdobramento da obra REVERSO (cujo histórico de transposições e reversões é inerente à sua lógica) e a especificidade do local da instalação. Busco formas de “ativar” o espaço, potencializando sua percepção. Então, simbolicamente, os “ecos” são como elementos operantes na equação estabelecida entre arquitetura e visitantes, de modo a estimular a percepção das peculiaridades do espaço por meio de espelhamentos fragmentários. Ao observar o quão marcante é a grade de iluminação no teto, me pareceu natural a apropriação desta estrutura na metodologia de divisão dos módulos da obra. Foi então que percebi o quanto o que foi executado não coincide com aquilo que foi projetado por Álvaro Siza. Entre o projeto e sua concretização, é o imponderável que dá os contornos finais à realidade.
O registro da obra REVERSO no local do acidente será decomposto em fragmentos distribuídos sobre duas grades, uma que representa o desenho estabelecido na planta arquitetônica, e a outra na proporção do que foi construído. Criando, assim, um loop que remete ao fractal: a repetição do todo reconstituído em escalas diferentes em suas partes. O espelhamento da divisão da divisão que nos conduz à experiência da integração.