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ATLANTIS

Ensaio elaborado para "Pretexto: edição publicações fotográficas", org. Fernanda Grigolim, Tenda de Livros: São Paulo, 2016

Transcrição

ATLANTIS
Um exercício de desapego
no naufrágio da memória

Um dia tudo que existiu restará apenas na memória imaterial

No dever de desver

o passado ganha

 novos espelhamentos

/O destino é implacável com quem demora a agir.

diante da hesitação, parece que o curso da vida reivindica as rédeas da situação para forçar uma tomada de decisão.

//ultimamente, Meu antigo apartamento em Porto Alegre permanecia fechado na maior parte do tempo. Eu quase não via o que se passava por lá, ainda assim, tinha a estranha sensação de que minhas obras nas paredes seguiam percebendo em meu lugar, já que continuaram a testemunhar os ciclos dos dias; Nublados, chuvosos, ensolarados. Com o frio ou calor, muitas luas atravessaram o céu sem minha presença ali. 

Então veio a água, arrastando a estagnação pela correnteza de uma catástrofe pontual. Ninguém sabe de onde até agora, Embora tenha vindo em grande volume – o suficiente para mofar tudo. Para evaporar e condensar por diversas vezes; Para derreter a superfície da matéria. Decompor, fermentar, Transmutar. Invocar algum tipo de vida atenta novamente, nem que seja sob o sôfrego sopro do socorro que antecipa a despedida. 

 

​Sobretudo, para suspender o tempo, 

marcar sua passagem no fluxo irreversível dos acontecimentos.

 

Daí o impulso da urgência reverberou um clamor pela existência, rompendo a surdez nos cômodos desabitados. Erupcionou a lembrança de que tudo aquilo o que pode existir só se realiza diante de algo ou alguém que comprove tal fato por meio da convivência.

 

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