DENISE GADELHA

O enquadramento das fotografias que foram apresentadas na galeria Xico Stockinger, em Porto Alegre, exibe parte do suporte expositivo e parte das janelas ao fundo. As imagens tendem a reforçar a atenção do espectador tanto para o interior da galeria quanto para seu exterior, estimulando, assim, o reconhecimento de detalhes da sala ao mesmo tempo em que incita a observação da paisagem externa. A fotografia confere valor ao objeto fotografado, afinal, o que é documentado fotograficamente só o é por ter sido considerado importante por alguém. A exposição do registro fotográfico do próprio ambiente intensifica e põe em foco os detalhes estruturais da galeria, como, por exemplo, o sistema de iluminação elétrica, a tubulação existente junto ao teto ou os filtros adesivos que foram colocados em parte da janela na tentativa de reduzir a incidência da luz solar. Detalhes que, nesse tipo de espaço operando sob os preceitos do “cubo branco”, supostamente deveriam ser abstraídos de nossa percepção. Por outro lado, a presença da janela na imagem fotográfica e a proximidade desta com a janela real convidam o espectador a reconhecer e admirar a paisagem. A Galeria Xico Stockinger proporciona uma vista privilegiada do Rio Guaíba, e, através da comparação com o registro fotográfico, uma atividade portuária que é desconhecida para grande parte dos habitantes dessa cidade pode ser revelada. O reconhecimento atento da imagem comparada à paisagem real pode provocar espanto em alguns visitantes que não esperavam encontrar um porto ainda ativo, onde, a cada dia, algo em escala monumental (guindastes e navios) surge em posições distintas do que está registrado nas fotografias.